Bem-Vindo

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Olhares


Des Regards

Trocaram um olhar. O que mais trocaram ali? Esperanças, vergonha, incertezas? Devia ser algo de bom, pois apesar de ter abaixado a cabeça, ele sorria. Ela queria sustentar seu olhar. Levante-se... levante-se... parecia que apenas com a força do pensamento aqueles olhos se ergueriam, fixariam de novo aquele par de espelhos cor de mel que ela continha. Pensou vê-lo corar. Ou seria apenas a luz de seus olhos refletindo em sua pele branca? Mesmo de longe sentia algo que os conectava. Luz? Reflexo vermelho? Reflexo cor de mel? Levante-se...

Sabia o que encontrara. Pelo menos naquele momento... aquele sentimento de felicidade tão sutil... Queria sustentar seu olhar... Levantou-se, enfim. Um sorriso. Um sorriso refletido. Assim, pronto. E ali estava a felicidade. Encerrada em alguns minutos, iniciada por nada, morta pelo inevitável final. Final do sorriso, final do sinal. Cruzaram-se, não da maneira como esperava.  E o vento fresco, com cheiro de sol, levou seu precioso olhar... seu encontro foi apenas uma interseção em dois caminhos bem diferentes. Não importava. Vivera mais um momento de alegria. Sempre ficava com vontade de voar, pular no mar, deitar numa cama bem macia, depois desses momentos. Vontades controversas ao que sentia. Se sentia mais pesada, ou seria mais complexa? Algo agregara-se a sua existência. Mais uma pena, mais uma semente aérea. “Qual o peso de um olhar?” Se perguntou. “Bom, eu peso 67 quilos... devo ter muitos.” E com essa inocência de menina, brincando com os cálculos de seu peso e de seu conteúdo, saiu sorrindo.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Jardins europeus



"O mundo é todo seu pra recriar.
Brinca com ele, menina.
Brinca e sê feliz."  R.

E brinquei. Pulei no verde, deixei o sol me banhar.
Senti a brisa que também movia os moinhos.
Passei as mãos pelos meus cabelos cheios de nós,
sem me importar com eles.

Sentei e esperei o tempo. Ele me abraçava, 
devagar. Quis continuar naquele jardim para sempre...
Cada flor tão significativa, cada cor um sentimento.
Azul, paz, púrpura, beleza, vermelho, felicidade, pura e simples.

Estava a descobrir o mundo, 
um que estava separado de mim por um oceano
(ou seria apenas por uma noite?)
E quão mágico ele podia ser!
Ser. Esse ser é meu, meu para moldar,
meu para pintar, mesmo com minha palheta deficiente.

Agora sou prisioneira desta tela.
Estou com um parasol, em uma ponte japonesa,
cercada por nenúfares. É assim que pintei minha lembrança.
Me disseram uma vez, que todos somos prisioneiros
de sentimentos que temos de vez em quando...

"It's much more than a stone, metal or golden cage. It's the ultimate prison.
This life allows us to go the farthest distances without even noticing any energy expenditure - we dream, sleeping or awaken.
And what a sweet prison this is. Just the one I wish I'd never ever leave, for the eternity.''  R.

O ar dourado que hora me rodeava, 
hoje carrega partículas negras de poeira.
Estou deitada, novamente, do outro lado da tela.
Minhas memórias ainda estão vivas, 
posso visitá-las, por enquanto, nas noites quentes
que me esperam, com estrelas cintilantes, 
guardando promessas oníricas.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Coincidências



“Me deixei levar pelo tempo, caminhei sem olhar por onde andava e por coincidência esbarrei em você. Continuei a caminhar, mas dessa vez te levei comigo.”  Anônimo. 

Entrou apressadamente. Não corria, mas mesmo fazendo um esforço para não respirar pela boca, o som de sua respiração pesada a acompanhava. Ao passar pela porta, ficou grata pelo ar-condicionado que a recebeu. Sua amiga Emília a esperava impacientemente. Sua aula havia terminado há mais de meia hora, e esperava somente ela para irem comprar os ingressos de um show. A avistou, a alguns metros afastada, batendo o pé nervosamente no chão. Fixou-a e foi ao seu encontro, não viu quando aquela forma se materializou diante de si.
-Desculpe,  Falou automaticamente.
-Não, eu que peço desculpas, não olhava por onde andava.  Respondeu o rapaz, já voltando a apressar o passo.
Seus olhos desvencilharam-se. Emília se aproximou.
-Vamos?
-Sim sim, desculpe. 

Foi um dia cansativo, não tinha dormido à noite por causa do show que vira, e passou o dia vagando. Biblioteca, sala, cafeteria, sala, rua. Andava de cabeça baixa, com um livro nos braços, pendendo perigosamente. Sentou-se num banco de pedra que ficava encostado no muro de alguma construção qualquer. Estava nos arredores da faculdade, árvores a brindavam com sombra e ar fresco, sentiu vontade de ler. Lia algum romance, um dos muitos que a prendiam em suas tardes tediosas. Saboreava as últimas frases de um capítulo quando sobressaltou-se. Seu coração estava acelerado, posição de alerta. O que foi isso? Alguém jogara alguma coisa do outro lado  do muro, que o acertou exatamente no ponto em que ela se encontrava. Pelo impacto, imaginou que fosse uma bola. Fechou o livro, levantou-se.

Já passava das três quando chegou na casa de uma colega, ela e Emília já a esperavam para fazer um trabalho. Ainda tinha seus fones no ouvido quando foi convidada para sentar. Assim que os tirou, teve a impressão de continuar ouvindo a música. Mas o que? Estava ficando louca ou ligeiramente surda, fazendo com que aquela melodia ainda ecoasse em labirínticos caminhos? Deve ter franzido o cenho enquanto se concentrava nos acordes que ainda tocavam, pois Emília reparou.
-É o vizinho. Ele toca guitarra, deve estar aprendendo essa música, porque a toca desde que eu estou aqui. Não é?  Olhou de soslaio pra sua colega.
-Sim, é o dia inteiro...
-Ah... pensei que não tivesse desligado meu ipod.  Tentou justificar sua surpresa.
Começaram o trabalho.

Deu o sinal do ônibus, equilibrava um caderno com uma mão, enquanto a outra se ocupava de sustentar seu peso enquanto este era jogado para frente. Freios. Viu, enquanto se aproximava de sua parada, um garoto correndo. Ele fez um sinal em sua direção, ao qual o motorista respondeu abrindo a porta de trás. Já saltava o último degrau quando olhou para sua direita e viu aquela forma subindo em um pulo. Pensou já tê-la visto antes... Parada, ali na calçada, olhava para o ônibus que acabara de a deixar pra trás. Janelas corriam e nelas procurava alguma coisa ou alguém. Desistiu, devia ter pensado que viu algum conhecido.

Estava cansada... seus olhos brilhavam, vermelhos. Além do final do semestre que arrancava-lhe suas noites, sentia uma exaustão que não era física, mas espiritual. Sentia-se velha, com já muitos anos vividos, e uma sabedoria que não os acompanhava. Subia agora as escadas do metrô. Corredor, escada, direita. Foi com esses pensamentos em mente que esbarrou naquele (des)conhecido. Pareceu perde-los por instantes, visto que agora seu cérebro se ocupava de outras coisas. Onde? Quando? 
-Desculpe,  Ele falou automaticamente.
-Não, eu que peço desculpas, não olhava por onde andava.  Respondeu-lhe, ainda o encarando.
Seus olhares não se desvencilharam dessa vez. Ficaram ali parados, nessa eternidade que um segundo pode conter. Tinha visto uma vez em um filme duas pessoas anônimas esbarrarem assim. Começaram a conversar, para saírem do modo pré-programado em que viviam. Não queriam mais ser "formigas" na vida dos outros, que, ao bater as antenas, desviam a cabeça e prosseguem com seus caminhos.
-Já te vi antes, não?      Seus pensamentos são cortados.
-Creio que sim...
Seus olhos sorriram, fitando-se.

Um. O apressado, o jogador de bola, o guitarrista, o passageiro de ônibus, o cara do metrô. Dois. 

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Binah-Tiphareth



Me encontro no caminho da dúvida...
aquele extenuante esforço analítico
meu espírito  é tal como espada, rasgando o véu de Tiphareth
mostrando-me os pontos mal acabados, 
lados ainda em escuridão.

Uma centelha de vaidade me inebria...
Sei bordar. Irradio luz.
Mas qual seria a consequência de tal luxuriosa interferência?
Perder-se-ia o caráter inicial,
moldar-se-ia em pensamentos-programações
E no final, que restaria?
Uma casca, onde outrora se metamorfoziava em seu próprio tempo um lindo ser
que hoje não passa de um verme alado?

Meu temperamento justo me impede de fazê-lo.

 Fico a admirar, de longe, esse véu imperfeito.
Indecisão que paralisa, ânsia que corrói.
Olhos ainda puros me fixam...
Aroma doce e verde. Absinto.

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