Bem-Vindo

sábado, 4 de setembro de 2010

Uma rosa rara


Uma rosa rara
Lá estava ela. Toda manhã ela seguia a mesma rotina: calçava a velha e manchada sapatilha de boneca, prendia o cabelo em um rabo de cavalo frouxo, comprava no café da esquina um capuccino quente com adoçante e seguia seu caminho rumo ao sebo em que trabalhava. Era incrível seu conhecimento sobre livros; dos contos excitantes de Sherlock Holmes às aventuras de Narizinho, dos clássicos aos desconhecidos porém, não menos importantes, dos filosóficos aos infantis, conhecia todas as histórias. Pouca gente ia ao sebo, restando-lhe tempo de sobra para mergulhar naquele mar de páginas velhas e amareladas.
Quando passei pela porta da frente, um sininho tocou anunciando minha presença. Um homem franzino e de óculos de fundo de garrafa veio atender-me. Disse-lhe que não procurava nada em especial, só estava dando uma olhada. Ele sorriu e se afastou, voltando à sua bancada empoeirada. Estava enfurnado entre prateleiras, folheando um clássico quando um livro na prateleira a minha frente foi puxado. No estreito espaço formado, dava pra ver seu rosto corado, com olhos castanhos profundos, sorrindo como se pedindo desculpas por tirar minha atenção. Sumiu-se. Algo tão sutil, tão ordinário, causou-me uma estranha sensação de vazio, como se aquele livro não fosse o único a desaparecer. Saí, inquieto, como procurasse por algo que nem eu sabia o que era.
O sino tocou, e o homenzinho não veio me atender. Depois de uma semana, já se acostumara com minha pontual presença. Agora, ia àquele sebo todo final de tarde, e, sempre que o adentrava e a encontrava, a sensação de vazio do meu peito ia embora, e uma lépida emoção me encobria. Quando me via, ela acenava com a cabeça, esboçando um leve sorriso. Eu a cumprimentava, e me perdia entre as tantas estantes de mogno. Às vezes, ela separava um ou dois livros para eu ver, os deixando na bancada do homenzinho. Ledora excepcional! Conseguia, sem dificuldades, ler pessoas também, como fossem livros abertos. Acertava todos os meus gostos; não teve um livro que ela me recomendou que eu não gostasse. Cada vez mais, ela me prendia com seu taciturno e misterioso jeito de ser.
Já perdia a noção do tempo, não sabia mais quantas horas passava entre aqueles livros de capas rasgadas e páginas soltas. Não importava, estava feliz. Ela sempre me acompanhava, só saía quando eu ia embora. Nunca trocamos uma só palavra. Que as deixássemos aos livros, pois estes sim necessitavam delas! Nossa conversação
se baseava em trocas de sinais; um lábio franzido quando o livro errado era escolhido, um sorriso quando a escolha fosse boa. Um olhar ansioso ao término do livro, para saber uma opinião. Troca de olhares. E assim foi passando o tempo, sem nenhuma pressa ou compromisso.
Estava um dia lindo, céu azul, nem quente nem frio. Antes de seguir meu caminho diário, passei em uma floricultura. Ao me ver diante de tantas flores, hesitei. Qual seria a mais apropriada? Pensei nos livros que ela gostava. Nos de romance sempre davam uma rosa vermelha. Clássico. Comprei uma rosa, mas esta era cor de rosa, não vermelha; ninguém gosta de clichês. Quando abri a porta, o sino não tocou. O homenzinho, explicando meu olhar curioso à porta, disse que ele havia caído, e, como fosse de quartzo muito fino, quebrou. Vasculhei os corredores ermos, e nada. Ainda olhei para a bancada, para ver se não era ela que estava cuidando do caixa desta vez.
Depois de uns minutos de espera, o homenzinho, vendo minha aflição, disse que ela vinha. "Não se preocupe, ela com certeza vem. Nesses quatro anos de trabalho, não faltou um dia sequer sem antes telefonar avisando... é, sem dúvida, uma menina rara." Duas horas depois, a certeza do homenzinho havia se esvaído como fumaça.
Segui meu caminho para casa, com a rosa na mão. Pensava, agora, que talvez fosse melhor assim. Eu teria mais tempo... Uma menina tão especial quanto ela merecia uma flor à altura, e uma simples rosa não daria para o gasto. Pensei em comprar uma rosa rara e bela, única como minha flor. Andando tão distraído, não vi quando virei a esquina errada, nem como cheguei àquele café que ficava numa esquina pouco movimentada. Um grupo de pessoas amontoavam uma parte da faixa de pedestres, e me aproximei para saber qual a ocasião. Uma senhora, ainda com lágrimas nos olhos, me contava sobre um acidente terrível, em que um carro desgovernado atropelou uma moça que atravessava a faixa. "A ambulância demorou mais de meia hora! Se tivessem chegado a tempo, a pobre moça poderia ter resistido. O carro fugiu logo em seguida, deixando-a exangue no chão." A tristeza e revolta compartilhada por todos daquele lugar fez sentido para mim. Com a cabeça pesada fui me afastando um pouco. Atravessei a faixa. Estava começando a escurecer, mas algo naquele chão cinza me chamou a atenção; uma sapatilha velha e manchada de sangue jazia perto de um poste.
A rosa caiu de minha mão. A minha flor, tão rara e bela, me fugiu assim, de repente.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Prêmio Dardos


Fico muito feliz em anunciar que o Slumbering Nights recebeu o Prêmio Dardos, por indicação do Pétalas do luar (http://petalasdoluar.blogspot.com/)!
O “Prêmio Dardos” dá a cada blogueiro o reconhecimento de seu valor, esforço, ajuda e transmissão de conhecimento diariamente. Mas, quem recebe esse prêmio também recebe umas obrigações:
Regras:
1. Você terá que aceitar o award e colocar em seu blog, juntamente com o nome da pessoa que lhe deu o prêmio e o link do seu blog;
2. Você terá que oferecer o prêmio para 10, 15 ou 30 blogs que julga serem merecedores deste prêmio. E não se esqueça de avisá-los sobre a indicação.
Para colocar o selo no seu blog, basta copiar a imagem e adicioná-la onde você achar melhor no seu blog .

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