Bem-Vindo

domingo, 19 de fevereiro de 2012

No parque

Uma autora famosa, com certeza. Sorria, enquanto olhava sua obra. Não lembrava ao certo como aquela ideia capturou sua mente... quando viu já estava escrevendo. E que sensação maravilhosa... tão ímpar! Nunca sentira algo assim antes. Claro, escrever era seu hobby, e já tinha feito isso dezenas de vezes, sempre que uma mínima inspiração surgia. Lembrava-se uma vez de estar em um café dentro de uma grande livraria, quando aquele ambiente que misturava o silêncio com o cheiro do café com leite a deu uma ideia. Tímida, no início, mas acabou se desenvolvendo em um grande conto -na sua sempre humilde opinião-. Não tinha onde escrever, estava munida apenas de uma caneta preta, dentre tantas outras coisas inúteis da bolsa. Nenhum papel. Observou, a sua frente, um porta-guardanapos de madeira trançada. A ideia reclamou, mas não teve jeito: acabou moldando-a nos guardanapos mesmo. Só quando chegou em casa é que pôde, finalmente, dar um destino mais nobre à amiga: fez questão de digitá-la no seu laptop, enquanto comia uns chocolates.
  Nessa tarde não seria diferente. Mais uma vez viu-se obrigada a improvisar. Primeiro cogitou se a ideia realmente valeria a pena para dar-se a tanto trabalho, e foi nesse momento que lhe ocorreu outro pensamento: Meu Deus! Essa era a ideia! Sim sim... o que primeiro pensara foi apenas a porta para que algo novo pudesse entrar, para que cogitasse o segundo pensamento... ah! Gostou desse. Ria-se sozinha, saboreando-o. Teve o cuidado de pensar como o botaria em prática, cuidando dos pormenores. Teriam que ser novas, sim, novas e macias. Brancas, ou em tons creme, pensou. Sua caneta preta servia para o trabalho, pois era de nanquim, então garantia uma escrita suave. Finalmente, pôs-se ao trabalho.
  Não levara muito tempo, talvez a parte mais demorada tenha sido o desenvolvimento do plano. Mas a melhor parte... ah! Sobre esta não resta dúvidas: a sensação suave de escrever, a delicadeza que se impusera, o cuidado com que desenhou as letras, o perfume que estava no ar. Como seria maravilhoso se vendessem grandes folhas para se escrever assim! Essa aspiração era boba, quase infantil, mas não consegui deixar de desejá-la. Imaginem só! Grandes maços com folhas assim... suaves, macias. O ato da escrita seria algo angelical...
  Uma autora famosa, com certeza seria um dia. Sorria enquanto olhava sua obra. Talvez umas doze, não mais que isso. Estavam dispostas no banco do parque. Ela mesma estava sentada no chão, com algumas flores murchas em volta das suas pernas cruzadas. Tivera o cuidado de selecionar as doze flores mais novas que achou, procurando só entre as caídas. Tivera, então, a sensação única de escrever em pétalas de flores.

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