Bem-Vindo

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Outra Janela aberta

Bom, esse miniconto eu fiz para um concurso de contos com até 300 caracteres com o tema "Sustentabilidade". Estava certa de que ia ganhar, pq os concorrentes não eram essas coisas, mas depois de ter escrito o conto, vi que o concurso era restrito a certas cidades... u_u *epic fail*
Hoje tava olhando o perfil do face que premiou o ganhador, e vi que o conto ganhador é fraquíssimo XD
é realmente uma pena eu não ter podido participar... [/humildade] ganharia um tablet  ;b 
De qualquer forma, pelo menos fiz um conto novo. Mesmo não gostando de escrever sobre um tema pré definido e com a limitação dos caracteres, até que gostei do meu conto.
Bom, o guardo aqui, nesse blog que é quase uma caixinha de lembranças.









Outra Janela Aberta

 Fechou os olhos, como tantos outros o fizeram e o fazem a todo o momento, na esperança vã de que, ao abri-los novamente, verão aquilo que lhes causa repulsa extinguir-se em um bater de cílios. O menino, de cabelo molhado e face fresca, acabara de jogar uma garrafa vazia de água pela janela do ônibus. Ainda o encarou por alguns segundos antes de fechar os olhos, com um quê de inquisidor no olhar. O menino a ignorou, e continuou a batucar os dedos, ouvindo seu MP4. 
 Sabia que algo deveria mudar, onde estava a preocupação com o ambiente, a consciência de que é preciso tomar atitudes, e que elas não podem ser adiadas? Aquele menino a deixava pasma. Ignorava a já exaurida ideia de sustentabilidade? Não julgava que ele fosse alheio a ela... Não, isso não é possível! Ele simplesmente não acredita que uma garrafinha que jogue no chão tenha uma vida útil de milhares de anos, que ela não é única em sua espécie. Que, várias, juntas, entopem as veias da cidade e poluem oceanos. 
 “Não posso ficar passiva diante de tal atitude...” considerou, enfim.  Abriu os olhos, como tantos outros o fizeram e o fazem a todo momento, na esperança (vã?) de que não seja tarde demais. “Com licença”, começou; O menino virou, espantado. “O que é Sustentabilidade pra você?”. O menino, confiante, citou a definição que aprendera na escola. “Muito bem. Agora pode me dizer por que jogou a garrafa pela janela?”. Segundos de silêncio. “Desculpe.” “Não, meu rapaz, não peça desculpas a mim. Peça desculpa a ela.” “A ela quem?” “À Terra.”. O rapaz baixou a cabeça, murmurou algo inaudível, talvez outro pedido de desculpas, e voltou a levantar a cabeça. Olhava, agora, pela nova janela.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Poésie Zoom

Estou no segundo semestre de francês na Aliança francesa, e como tarefa de casa a professora mandou que fizéssemos uma poesia =) 
deu alguns exemplos de poesias, Regards (descrever o que vê), Recette (como uma receita), Zoom (pode ser um zoom do menor pro maior ou do maior pro menor), Haïkus (haikais), Souvenir (falar de lembranças)... 
eu resolvi fazer uma do tipo Zoom :3
claro que ela ficou bem simples, já que tô só no 2° semestre... u_u mas resolvi incrementar com umas rimas ;3
achei um site de rimas em francês legal: http://www.dico-rimes.com
bom, eu achei a poesia bonitinha *-* e a professora também gostou =D
por isso venho postar aqui <3






L'univers intérieur

Dans l'univers il y a une belle planète,
Dans cette planète il y a une ville sombre,
Dans cette ville il y a une maisonnette,
Dans cette maisonnette il y a une chambre,
Dans cette chambre il y a une personne a dormir,
Dans cette personne il y a un univers à élargir.



domingo, 28 de agosto de 2011

Mais fotos!

Consegui juntas umas fotos legais das minhas voltinhas por Londres e Copenhagen.... 
tem tantas que depois posto mais =)
Enjoy!














terça-feira, 10 de maio de 2011

Morte em terceira pessoa

"Ficaram assim, quase abraçados, quase juntos, à beira do tempo ." Saramago
  
Segurava sua mão. Em toda a simplicidade que esse ato encena, mas com um sentimento tão profundo que a fazia prender o ar. A mão dele estava tão quente mas ao mesmo tempo tão inerte, numa rigidez cadavérica que conseguia apagar qualquer sorriso de sua face, pondo um quê de desespero em seus olhos já úmidos. As mãos dela se fechavam em concha em volta de sua pele macia. Ah se ele soubesse o quanto tudo aquilo significava para ela!
   Queria poder chorar, mas a fatiga que as forçadas explicações posteriores causaria aos dois os preservava disso. Sentia seu olhar triste a despindo de todo medo ou cansaço, e seria capaz de lutar com os mais fortes inimigos e de atravessar o mais longo dos mares apenas para fazer um par de olhos sorrir.
   Também não pronunciou uma só palavra. Ficaram assim, mergulhados naquele silêncio negro, cortado apenas pelo som dos pneus percorrendo o asfalto e pelas buzinas incessantes de toda grande cidade. Tinha tanto para falar mas hesitou. Hesitou na inconstância do raciocínio, no abismo das palavras, que figurava-se impossível de atravessar. Era como uma criança, que perde as palavras e põe-se a apontar e emitir sons ininteligíveis, na esperança vã de ser compreendida. Ela também perdera as palavras. Ou talvez nunca as tenha tido, por isso não pode, enfim, usá-las.
   Cansada, deitou sua cabeça no ombro dele e fechou os olhos. Sentiu seu rosto se virando para fitar a janela. Imaginava-se em branco, eu sei. Não confundo porém seu desgosto com apatia... esperava tanta coisa e quão pouco pude lhe dar! Injusto. Um terror agora se apoderava dela, apertou com mais força sua mão, entrelaçando seus dedos nos dele. Foi nessa hora, nessa maravilhosa hora, que a mão antes inerte retribuiu seu afeto, seus dedos escorregaram pelos dela e seguraram sua mão. Virou o rosto e de leve o pôs sobre sua cabeça. Um segundo, um minuto, uma hora, uma eternidade. Eu também te amo. Levantou os olhos para encará-lo, sorrindo. O beijou. Quanta felicidade e esperança de compreensão jaziam nesse beijo! O fitava com toda a transparência de sua alma. Ao ver seu sorriso, enfim respirou.
   Seguravam as mãos. O momento havia chegado. Com cautela, desembaraçou-se de seus dedos, ainda o olhou uma, duas, mil vezes. Boa noite, meu bem. Saltou do carro, ainda amparada pelo seu sorriso, pelo seu maravilhoso sorriso. No espaço semi-cerrado da porta de ferro se fechando, viu seu semblante. Olhos novamente tristes, o sorriso havia se perdido. Fechou a porta e se dirigiu, morta, à sua cama.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Geometria



Geometria


   Sinto-me sólida hoje. Não foi pelo que não digeri, ou talvez sim. De alguma forma estou mais complexa; os planos que me cercam se alteram, mas ultimamente tenho visto muitas figuras esféricas. Talvez tenha ficado um pouco assustada, as planas eram mais fáceis. Cansada... deve ser só isso. Sempre gostei de decifrá-las; as figuras esféricas podem ser tão divertidas! Você as levanta, joga pro alto, segura de novo, rola. E elas continuam da mesma forma: passivamente te encarando, inertes em pensamentos obscuros. Brincar com elas é a melhor parte. São imprevisíveis e podem não voltar mais, uma vez lançadas. Saem rolando por ai, sem um destino certo, pelo menos ao seu ver, e acabam topando em encontros inusitados. Planos em várias dimensões me cercam agora. Sinto que estou inchando, com pensamentos a transbordar. Sempre achei que as coisas ficariam mais claras quando chegasse a esse ponto. Enganei-me. O breu é soberano. Agarro, desesperadamente, as frestras de luz que saem das portas semi-abertas. Ao meu lado estão as esféricas, do outro, não sei. As planas, estas nem estão aqui. Estas, nesse plano, nem são. 
   Cada frestra significa mais do que poderia supor... gosto tanto de colecioná-las! Fazer uma coleção assim, tão ímpar, leva tempo. Tempo e muito esforço, mas acredito ser recompensada. Minha parte favorita é descobrí-las. Escondidas atrás de uma ou outra sombra. Vou esgueirando-me, me aproximo. Espero um pouco e... BAM! Pulo ao seu encontro e as pego nas mãos. Vou guardando tudo, sentindo cada vez mais o inchaço se apoderar de mim. Cultivá-las é mais demorado, mas após lapidadas, brilham tão deslumbrantemente que você pode compartilhá-las, mostrando, incluisive às planas, todo seu esplendor. O que não me avisaram, porém, é que elas não morrem. Eventualmente são substituidas, mas não morrem. Já fazendo parte do meu ser, é impossível desfazer-me delas. E quando tudo o que você quer é um pouco de sombra, pra descansar, elas estão lá, a brilhar e brilhar. Quando você percebe isso, é tarde de mais. Você é uma esférica. Eu sou uma esférica agora.
   Ser esférica dá trabalho e estou fatigada. Queria ficar em um só plano, um simples mesmo, linear. Sinto-me cada vez mais presa num labirinto de senóides e essas curvas estão me enjoando. Cheguei ao topo de uma delas e percebi que tenho medo de altura; Descer parece o caminho mais óbvio a seguir. Mas não poderei simplesmente pular para outro plano? Aquele linear que tanto quero... por favor, por favor, simplifique esses graus! Quero voltar à escala um! Que fiquem as curvas com suas pérfidas esféricas.
   Não me entenda mal... não é que não se possa confiar numa esférica... uma vez em seu âmago são criados laços de difícil rompimento (pelo menos é o que se espera, com uma esférica nunca podemos ter certeza); mas elas podem ser tão fatigantes! Podem rolar e rolar e não sair do lugar. Ainda assim as admiro... as planas, nem isso fazem. Ficam paradas, esperando que alguma força superior as mova, as tire de sua vidinha patética. Ou não. Ou não esperam nada, simplesmente vivem.
   Talvez tal disposição para vida seja realmente invejável... apesar de suas aspirações resumirem-se ao próximo sorriso. Talvez, só talvez, as esféricas sonhem com um dia se tornarem planas novamente, dai todo seu dilema existencial. Apenas por essa noite, desejo ser plana... mas nunca mais voltaremos, pois uma vez infladas não há mais volta. Resumir-me-ei, enfim, a minha geométrica insignificância.

terça-feira, 8 de março de 2011

O Homem Duplicado




"(...)desforra, desforço, despique, desagravo, desafronta, represália, rancor, vindicta, senão mesmo a pior de todas, ódio. Meu Deus, que exagero, o que aí vai, dirão as pessoas felizes que nunca se viram diante de uma cópia de si mesmas (...)."


   Bom, queria ter entregue essa resenha ainda em fevereiro *e ela já estava pronta* mas fiquei um tempo sem vida  internet. Essa foi feita em parte durante a aula de cálculo (aluna dedicada) XD, mas vamos lá o/
   Sempre tive vontade de ler alguma coisa do Saramago; após sua morte, que todo mundo falava dele, resolvi que era hora de ler. Escolhi um dos seus livros na estante da sala: "O homem duplicado". Demorei um bocado pra ler, pois parei por uns meses para me dedicar aos estudos (desculpa esdrúxula), mas quando retomei a leitura não larguei mais o livro! É MUITO bom! Não é pra menos que tinha grandes espectativas do Saramago...


"(...) nenhum homem pode ser exactamente igual ao outro em um mundo em que se fabricam máquinas de acordar.(...)"   


  Indo agora à resenha... "O homem duplicado" conta a história de Tertuliano Máximo Afonso, um pacato professor de história do ensino médio. Sua vida aparentemente normal vira de pernas pro ar quando descobre, por meio de um filme recomendado por seu amigo professor de matemática, que existe, em sua cidade, um homem fisicamente (será apenas fisicamente?) idêntico a ele. Torna-se sua obcessão descobrir sua identidade e como vive esse seu duplicado. Em seu mundo fechado, Tertuliano prefere não comentar o incidente com ninguém, nem mesmo com sua namorada, Maria da Paz, vivendo uma grande crise sozinho."(...) e foi para casa, lá onde, paciente e segura de seu poder, o estava esperando a solidão.(...)". Numa atmosfera cercada de mistério, revoltas e conflitos existenciais, Tertuliano segue as pistas até o jovem ator secundário Daniel Santa Clara. Tertuliano para. É hora de pensar no próximo movimento; agora com seu nome, como o encontrará? o que falará para ouvidos iguais aos seus? Com jogadas calculadas, Tertuliano dá um show de como jogar friamente com assuntos sérios. 
  Depois do encontro fatídico, Daniel tem sua paz roubada, sendo esta entregue a Tertuliano, e deste recebe todas as questões existenciais. Quem é a duplicata de quem? Se são iguais, seriam iguais também no momento de suas mortes? Daniel precisará se esforçar para estar a altura do desafiante Tertuliano. Como em uma partida de xadrez, os dois homens (ou um só?) enfrentam-se em um complexo jogo de barbas postiças, casas isoladas e espreitadas. Um terceiro participante tenta, tímido, entrar na partida: o Senso Comum; mas este é sempre deixado de lado, tendo, por vezes, consequências desastrosas. Recheado de filosofias de bolso, uso esse termo não por serem mesquinhas, mas por fluirem nas mais diversas situações, "O homem duplicado" é também um romance para abrir a mente e refletir sobre relações inter e intrapessoais. Saramago tem um quê machadiano, dialogando constantemente com o leitor, chegando a dar escusas por certas situações, e o convidando a pensar também.
  Agora vamos a alguns fatos interessantes que achei ao longo do livro... o nome Tertuliano Máximo Afonso é sempre repetido por completo, como se tentasse em vão se afirmar durante o romance; "Tertuliano" lembra "tertúlia" que é uma pequena reunião de amigos (nesse caso de sósias...), Tertuliano é professor de história, apesar disso encontra-se constantemente escrevendo a sua (ele até propõe um interessante método de ensino, ensinando a história da frente para trás, o que se mostra intrigante no final do livro, com uma lição valiosa aprendida... "colocando no primeiro de todos os instantes o último ponto final"), Daniel Santa Clara é um ator, logo sua profissão requer dele ser alguém que ele não é (no final do livro isso soa ainda mais irônico XD), Maria da Paz está sempre como a balança da razão, tentando "conciliar" a situação (mais uma vez as implicações desse fato serão sentidas mais pra frente no romance...), dentre outras coisinhas que deixarei vocês descobrirem =D
Enfim! Recomendadíssimo!


"(...)Ficaram assim, quase abraçados, quase juntos, à beira do tempo."

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O jardim por trás da porta de ferro

Ultimamente a fotografia tem se tornado um hobby para mim, e adoro fotografar meu jardim, que apesar de pequeno *não se enganem XD* é repleto de cores e convidados x3 
Hoje estava andando pelo jardim quando vi uma borboleta liiiinda, e corri para pegar a câmera. Já com a câmera em mãos, aproveitei pra tirar fotos de tudo o que eu via. Me apaixonei por uma lagarta que tinha um brilho azul e tirei trocentas fotos dela... Bom! Vou postar aqui algumas fotinhas que ficaram boas =)










Essa merece ampliar pra ver o brilho azul!



terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Skip Turn Step~




Nessas tardes de chuva fico inspirada, e adoro acompanhar a chuva com música... então resolvi postar uma música que gosto muito e combina perfeitamente com esse clima nublado =)


A música é da Kanon Wakeshima, e até tem na playlist do blog, confira! =)




Skip Turn Step
Shoutai sarete
Hare no hi no ame
Atashi ni mimi uchishita
Shizuka ni
Shizuka ni
Ame no POOL fun de STEP o hiroshiteiru
Kangen no STACCATO o manete
Awasete kara kau
Kasa o sute
Kimi wa kirakira warau kara
Okujou wa kagi o kaketeite
Mo sora no
Mirareru no

Koutami shiteta
Natsu no hi no gogo
Atashi ni ame ga futta
Shizuka ni
Shizuka ni
Ame no POOL fun de STEP o hiroshiteiru
Gasshou no CRESCENDO o manete
Awasete kara kau
Kasa o sute
Kimi wa fuwafuwa
warau kara
Okujou wa otenki ame

Saa
SKIP TURN
SKIP TURN
Warai koe wa
SKIP TURN
SKIP TURN
Hibi ite sora ni tokete
Kimi o terashite

Saa
SKIP TURN
SKIP TURN
ashi oto wa
SKIP TURN
SKIP TURN
Hibi ite

Ame ni hazukete kimi o yurashite
Ame no POOL fun de STEP o
Okujou wa otenki ame
Kangen no STACCATO o manete
Gasshou no CRESCENDO o manete
Okujou wa otenki ame


A tradução não está muuuito fiel mas quebra o galho x3

Deslize Rodopie e pare
Eu convidei a chuva
para os dias ensolarados
Sussurro à mim

Quietamente Quietamente

Dançando um passo-a-passo em uma piscina de chuva
Imitando o staccato de uma orquestra antiga
Abandone seu guarda-chuva e mostre o seu sorriso
O telhado pode ser visto;
a chave trancada no céu

Eu lamento a tarde
De domingo de verão
Choveu sobre mim

Quietamente Quietamente

Dançando um passo-a-passo em uma piscina de chuva
Imitando o crescendo de um coro
Abandone seu guarda-chuva e mostre seu sorriso inocente
Chove nos telhados

Agora?
Deslize e rodopie,
deslize e rodopie,
dando risadas
Deslize e rodopie,
deslize e rodopie,
ressonante. Você derrete na luz do céu

Agora?
Deslize e rodopie,
deslize e rodopie,
deixando pegadas
Deslize e rodopie,
deslize e rodopie,
ressonante

Sacuda a água da chuva
como se estivesse brincando
Dançando passo-a-passo em uma piscina de chuva
Chove nos telhados

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Anjo de prata


Vazio. Era isso o que sentia, ou que não sentia, como queira. Não era solidão, nem tristeza, apenas a ausência de tudo. E convivia muito bem com isso, me sentia completa.
Um dia, porém, o vi na vitrine. Soberbo, imponente, com asas de prata que varriam todos os campos da minha alma. Busto fosco levemente arredondado, rosto para baixo, pecaminoso. Mãos em união rígida e eterna. O véu, também de prata, lhe cobria a silhueta torta, deslizando em ondas sobre seus pés. Senti dentro de mim o vazio se preencher, cheio de dúvidas e angústias. Voltei a apressar o passo.
Numa outra tarde, encontrei-me a fitar, hipnótica, a tal estatueta. Desta vez, uma cortina de chuva escorria pelos céus, lavando todos os pecados terrenos. Me protegia com um guarda-chuva cinza, na fria esperança de ser poupada de tal juízo. A vitrine agora chorava, como a estatueta. Senti de súbito o vazio pesar, como um grande buraco negro sugando todas as minhas forças; me apoiei na vitrine, cambaleante, até recuperar o fôlego. Sai.
Na terceira semana, não aguentava mais ficar sem meu anjo, e o comprei por um par de notas. Embrulhado num jornal da semana passada, levado em baixo do braço até meu pequeno e caótico apartamento, lá estava ele. Agora poderia admirá-lo o quanto quisesse, passar horas a fio, filosofando. Quando chegava em casa cansada, ele era meu conforto, minha salvação.
Notei que as pálpebras, apenas riscos no metal fosco, estavam fechadas. Cego, meu anjo era cego. Vagava pela vida com a esperança de guia, rezando para encontrar alento para sua alma. E não é isso o que todos nós fazemos? Sempre em busca de alicerces, que possam nos sustentar, nos ajudar a levantar ou nos impedir de cair? Triste é o ser que vive vagando, solitário, em busca de amparo. Alguns sortudos o encontram na fé irrefutável e irracional, uns o encontram apenas nos outros. E um mundo de sombras disformes se transforma num alegre mundo de rostos sorridentes.
Meu anjo não precisava ser sorridente para ser completo, e ao seu lado conseguia me acalmar. Não é que minhas angustias desaparecessem, pelo contrário, se multiplicavam, mas minha mente se clareava e podia pensar no trânsito contínuo de emoções e sentimentos que me bombardeavam por dentro de maneira opalina e racional. Inquietava-me o espírito ter que deixá-lo e seguir rumo ao meu ofício. Trabalhava em um pequeno escritório de advocacia, bem no centro da cidade. À noite as ruas se enchiam de luzes neon, e letreiros luminosos nos convidavam a beber e dançar. Passava pelas portas escancaradas e convidativas de boates, olhando sempre para as pedras monocromáticas que compunham o mosaico da calçada. Ia em direção ao metrô. Dentro deste, as leis da física sobre dois corpos não poderem ocupar o mesmo espaço não se aplicavam, e jazia pendurada em uma ínfima barra de ferro tentando em vão não me afogar no mar de pessoas. Chegava em casa exausta, e abrigava meu vazio no meu anjo de prata.
Ao conversar com meu anjo, percebi o quanto os seres humanos são desprezíveis. Podem, tão facilmente, fazer outras pessoas sofrerem... mentem, roubam, traem,assassinam. Não... não mais deixarei eles me afetarem, ficarei protegida, abrigada em enormes asas de prata. Que suas asas sejam minha força, meu baluarte. Que eu consiga escapar dos pecados humanos, até ascender ao céu, rezei. Olhei pela janela, o céu não tinha estrelas, apenas núvens acinzentadas; ele padecia, tóxico. Fui, cada vez mais, ficando reclusa em meu apartamento, com apenas a companhia do meu anjo de prata. Enfim as férias de verão chegaram, e posso me ocupar de coisas mais importantes do que pessoas. Gosto de ler sobre mitologia, sobre os antigos ensinamentos, sobre as leis de uma outra época. Leio constantemente para meu anjo, sinto, porém, que é ele quem está, na verdade, lendo para mim. Quase consigo ouvir sua voz... suave, ritmada, gentil. Não abre os olhos, não lê as letrinhas negras em linhas, apenas sabe-as. Devoraste-as em épocas anciãs, e agora compartilha suas histórias comigo.
Acabei adormecendo; não que fizesse muita diferença, posto que a vida encontra-se cercada de ilusórios sussurros e plumas. Sonhei com um corredor, tão alto que não conseguia ver o teto... talvez fosse o céu. Talvez. As paredes de mármore falavam entre si na lingua dos anjos, sem deixar-me entender nada. Por que fazem isso comigo? Não sou amiga dos anjos? Não dei meu fraco coração a um par de asas de prata? Irrito-me. Esmurro com força as paredes, ouço risadas. Uma presença invisível me consome, deixa-me em alerta, toda arrepiada. Corro. Risos, risos, risos. Chego ao fim do dantesco corredor, e lá está ele, a me esperar, numa sacada de um metal brilhante. Abre, enfim, os olhos. Olhos de prata, como o esperado, fitam-me hipnoticamente. Atrás de si jaz o céu e apenas o céu. Estrelas brilham mas não há lua a vista. Estende, em toda sua majestude, suas asas de prata. E não está mais na sacada, ou no corredor de mármore, está no infinito negro. Suas asas rígidas não se movem, e vejo-me a saltar em sua direção, numa tentativa frenética de ajudá-lo. Caindo, caindo....
Seus olhos estão fechados agora. Gotas escuras mancham suas asas. Elas não poderiam mais me proteger, mas agora iria com elas para longe. Para bem longe dali, onde ficaria em sua companhia para sempre. Sinto-me entorpecida... as risadas viraram gritos, gritos de horror. Infelizes pessoas que não têm seus próprios anjos... gritem, podem gritar. Debilmente, estendo minha mão para acariciar a face lisa e fria do enviado dos céus. Uma estranha coloração carmim segue meus dedos trêmulos enquanto percorro o caminho de sua face até a ponta do queixo. Durma, durma meu anjo....

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A garota dos pés de vidro


O livro é a estréia do jovem autor britânico Ali Shaw (29), pelo qual recebeu o prêmio The Desmond Elliot. Shaw cria um universo monocromático e gélido, o arquipélogo de Saint Hauda's Land. Nesse mundo branco, casos curiosos mexem com a imaginação do leitor. Somos apresentados a um delicado gado com asas de borboleta, que vive em um pântano com um curioso homenzinho; a um ser que pode
transformar todas as cores em branco apenas com um olhar, a uma doença que transforma seus portadores em vidro. O cenário é o que me chamou mais a atenção: descrito pelas lentes do fotógrado Midas Crook, cada gota de luz é tão significativa quanto as sombras de sua ausência. Precipícios, praias, campos, pântanos; tudo que tem a chance de passar por tais lentes torna-se indescritivelmente mágico e belo.
A história conta a lenta e dolorosa transformação da menina Ida Maclaird em vidro e sua busca desesperada por uma cura. Ela é levada ao arquipélogo de St. Hauda's, onde uma vez tinha ouvido estórias sobre cadáveres de vidro puro. No caminho conhece o jovem Midas Crook, um fotógrafo local. Um romance (?) inesperado surge entre os dois e Midas e Ida percorrerão todas as planícies brancas atrás da cura para a estranha doença. Paralelamente, somos apresentados ao passado de algumas personagens secundárias, uma profunda teia de conflitos psicológicos é tecida, e podemos ver toda a dor e frustração de vidas incompletas, estraçalhadas por decisões erradas. Midas luta contra as memórias de um passado sombrio, e a única pessoa que pode ajudá-lo é Ida. Ironicamente, a única pessoa que pode ajudar Ida em sua busca por um milagre é Midas.

Agora que foram devidamente apresentados ao livro, vamos falar um pouco do que eu achei. Quando o vi a venda na livraria, fui logo atraida pela capa, mas não se pode julgar um livro pela capa *com o perdão do trocadilho*, e fui ler as orelhas do livro. Gostei. Comprei. Li. Maravilhoso! XD achei que para um primeiro romance de um autor está muito bem escrito, com personagens complexas e bem estruturadas. Claro que histórias de sofridas transformações não são bem inéditas, tendo o próprio Ali Shaw citado várias de suas favoritas em uma entrevista. Clássicos como Lobisomem, Metamorfose, Dr. Jekyll e Benjamim Button *recentemente adaptada a um ótimo filme* fizeram sucesso com a mesma fórmula básica: transformações corporais que tornavam seu portador infeliz, em uma busca frenética de controlar seu próprio corpo. Apesar do aparente clichê, achei a história bem criativa e original. A melhor parte são as descrições da paisagem, as metáforas e comparações usadas para tal fim. Ali Shaw está de parabéns! =D
e para meus queridos seguidores, fica ai a dica! ;D

Livros, livros!

Como faz tempo que não posto nada, resolvi abrir uma nova seção no meu blog, com dicas de livros. Tentarei postar pelo menos uma por mês, e já começo atrasada XD

Como estou começando por Fevereiro, postarei o livro referente a Janeiro esse mês, e o de Fevereiro também! *espero não me atrasar de novo u_u'*
Sobre a seção, postarei uma pequena resenha e minhas impressões sobre o livro em questão. ^^
Bom, vamos começar, sem mais delongas...

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