Des Regards
Trocaram um olhar. O que mais trocaram ali? Esperanças,
vergonha, incertezas? Devia ser algo de bom, pois apesar de ter abaixado a
cabeça, ele sorria. Ela queria sustentar seu olhar. Levante-se... levante-se...
parecia que apenas com a força do pensamento aqueles olhos se ergueriam,
fixariam de novo aquele par de espelhos cor de mel que ela continha. Pensou
vê-lo corar. Ou seria apenas a luz de seus olhos refletindo em sua pele branca?
Mesmo de longe sentia algo que os conectava. Luz? Reflexo vermelho? Reflexo cor
de mel? Levante-se...
Sabia o que encontrara. Pelo menos naquele
momento... aquele sentimento de felicidade tão sutil... Queria sustentar seu
olhar... Levantou-se, enfim. Um sorriso. Um sorriso refletido. Assim, pronto. E
ali estava a felicidade. Encerrada em alguns minutos, iniciada por nada, morta
pelo inevitável final. Final do sorriso, final do sinal. Cruzaram-se, não da
maneira como esperava. E o vento fresco,
com cheiro de sol, levou seu precioso olhar... seu encontro foi apenas uma
interseção em dois caminhos bem diferentes. Não importava. Vivera mais um
momento de alegria. Sempre ficava com vontade de voar, pular no mar, deitar
numa cama bem macia, depois desses momentos. Vontades controversas ao que
sentia. Se sentia mais pesada, ou seria mais complexa? Algo agregara-se a sua
existência. Mais uma pena, mais uma semente aérea. “Qual o peso de um olhar?”
Se perguntou. “Bom, eu peso 67 quilos... devo ter muitos.” E com essa inocência
de menina, brincando com os cálculos de seu peso e de seu conteúdo, saiu
sorrindo.